Maria
é a Deusa Mãe não reconhecida pela tradição cristã.
Muito
embora, dela se tenha uma visão poética, seja em ícone, em pintura ou em hino,
Maria faz reviver em suas figura, as antigas imagens do passado, em total
contradição ao texto do Novo Testamento e as afirmações canônicas.
O
nome de Maria, provém do vocábulo latim "mare", que significa mar.
Todas as Grandes Mães nascem do oceano primogênito ou dos abismos da água, o
útero primordial da vida da qual emerge toda criatura. O mar era o ideograma de
Nammu, a Deusa suméria; Ísis era "nascida de tudo-que-é-água"; Hator
é "o abismo das águas do céu"; Nut, Deusa do Céu, deixa cair seu
leite sob a forma de chuva; Afrodite nasce das espumas do mar. É possível que
as coloridas sereias que estendem seus braços e deixam flutuar seus cabelos aos
quatro ventos nas proas dos barcos sejam um remanescente popular desta
referência.
A
Maria é conhecida, as vezes, como a "rede" e a seu filho como
"pescador divino".
Maria
herdou de Ísis seu título "Stella Maris", "Estrela do Mar",
que evoca, o celeste mar do firmamento noturno e o oceano terrestre. Também,
como Ísis, se converteu na padroeira dos barcos e marinheiros, a salvadora de
vidas em uma época em que se viajava à noite, tendo as estrelas como guias. Em
Sicília, a imagem da Virgem substituiu o olho de Hórus, filho de Isis, que
antigamente era pintado nas proas das barcas de pesca da região.
Maria
se converteu para a alquimia, na estrela que guiava o peregrino que embarcava
em águas desconhecidas do grande mar da alma.
A
leitura cristã literal da virgindade de Maria contrata totalmente com a antiga
interpretação simbólica da virgindade da Deusa Mãe, a maravilha da natureza
renovando-se perpetuamente a partir da fonte que é ela mesma. A virgindade de
Maria não pode redimir a "caída" de Eva, unicamente exacerba a ideia
que houve um pecado no princípio, e que há algo intrinsecamente mal na natureza
humana FEMININA que deve expiar-se.
Alan
Watts afirma: "A Mãe Virgem é, em primeiro lugar, "Mater Virgo",
matéria virgem ou terra sem arar; é a "prima matéria" antes de sua
divisão em multiplicidade das coisas criadas, ou antes de ser arada. Como
estrela do mar, "Stella Maris" (mare=Maria), fonte selada, "o
ventre imaculado desta fonte divina" é também as águas sobre as que se
movia o espírito divino no princípio dos tempos. Como "a mulher vestida do
sol, com a lua embaixo de seus pés", é tudo como as outras mitologias
representavam as Deusas da Lua, que brilha com a luz do sol e aparece na noite
rodeada (coroada) de estrelas. Como o ventre em que nasce o Logos, é também o
espaço; a convenção artística comum assim a refletia quando a viu com um mato
azul, semeado de estrelas".
A
Bíblia não menciona a morte da Virgem Maria e não existe relatos contemporâneos
de seu enterro nem arquivos sobre o paradeiro de seu sepulcro. A falta de
provas nas sagradas escrituras desencadeou intensas especulações entre os fiéis
e nos séculos IV e vários textos mencionaram as circunstâncias da morte de
Maria. Ditos testemunhos eram heréticos. De todos os modos, alguns se
converteram em base da tradição medieval da ascensão: a crença de que Maria
subiu fisicamente ao céu.
Maria,
ao longo dos séculos, passou de um papel secundário, como Mãe de Cristo, para
tornar-se cada vez mais associada e vinculada com a Deusa Mãe neolítica da
terra doadora de vida.
Aliás,
não são poucos os autores que afirmam que o culto à Virgem Maria é uma
continuidade da adoração das Deusas do paganismo, tal qual eram adoradas no
Egito, na Grécia, na Babilônia e em Roma.
A
partir da Idade Média, Maria já havia assumido o papel de Deusa dos grãos,
convertendo-se, como suas antecessoras, na responsável última de manter e
nutrir a humanidade. Em uma bela ilustração do Milagre do grão, Maria aparece
como Rainha da Terra, fonte do grão, da colheita e, em fim, da humanidade.
Podemos
também contemplar em obras de arte, a Maria sentada sobre um trono de leões, o
que a inclui dentro da tradição das Deusas cujo domínio sobre os poderes da
natureza se expressa representando-as sobre um leão, de pé ou sentadas.
(Fonte: El Mito de La Diosa -
Anne Baring/Jules Cashford La )