Mãe - Luz e Sombra

Sempre me julguei uma pessoa ponderada. Alguém capaz de raciocinar antes de agir e busco estar sempre em equilíbrio.

Eu busco a espiritualidade e acredito de verdade que tudo na vida tem um propósito.

Entretanto, depois que me tornei mãe, pude perceber o quanto estou longe de ser alguém evoluída ou ponderada e o quanto eu posso ser primitiva.

Embora eu saiba que na vida tem sim, um propósito e que tudo acontece de acordo com a Lei Maior e com a Justiça Divina, a simples e mais remota ideia de que alguma coisa possa acontecer a meu filho, me tira do eixo de uma tal maneira, que nem sei explicar.

Ser mãe desperta o que há de melhor em mim. Mas também desperta meu lado mais sombrio. Um lado que eu nem sabia que tinha.

Hoje o ditado que diz “eu sou capaz de matar ou de morrer por você” tem um novo significado para mim. Na verdade, eu posso dizer sem sobra de dúvida, que este ditado é literal para mim.

É exatamente isso...

Sou realmente capaz de matar ou de morrer, sem pensar duas vezes.

Curioso como este sentimento pode ser tão intenso e confesso que isso até me assusta.

Hoje me vejo capaz de coisas que antes de ser mãe, eu pensava que jamais seria.

Hoje também, eu conheço o sentido da palavra amor.

Como eu amo essa criança!

E claro que é maravilhoso ser retribuída. Sentir também o carinho desse bebezinho por mim. Mas mesmo que eu não fosse retribuída, ainda assim, eu seria e sou capaz de qualquer coisa por ele.

Entenda que isso não significa que eu permitiria qualquer coisa dele.

Procuro sim, colocar limites. Explicar o certo e o errado. Amar também é saber dizer “não”.

O que quero dizer na verdade, é que mesmo SE meu filho não me amasse, ainda assim, eu o amaria com todas as minhas forças e ainda assim, seria capaz de qualquer coisa pela sua felicidade. Acho que isso é o sentido do amor incondicional.

É maravilhoso ter o carinho e o amor do meu filho. Mas tudo o que eu faço por ele, não é esperando que ele me retribua de nenhuma maneira.

Faço, porque tenho prazer em fazer. Amo porque tenho prazer em amar. Cuido, porque tenho prazer em cuidar.

Hoje, posso ser o sonho de alguém que trata bem o meu filho, mas também posso ser o pesadelo de quem se quer ousar olhar torto para ele.

Meu filho faz crescer em mim, minha luz e quanto mais intensa for esta luz, mais negra se torna minha sombra.
Sei que somos seres duais. Todos tem dentro de si o poder da bondade e da maldade.
Compreendo melhor meu lado mau. E se antes eu não sabia ao certo o que poderia despertá-lo, hoje eu sei. E o sinto alerta a todo instante.
Acho que nunca estive tão certa da minha dualidade como estou atualmente. E aceito isso.
Nunca tive meus instintos tão aflorados como tenho agora em relação ao meu filho.

Hoje, posso perceber e me sentir realmente parte da natureza em seu sentido literal. 
Hoje, percebo que sou bicho.
Hoje, percebo que sou mãe.

Thita Oliveira